A Viagem

18 janeiro 2013 |

Por Daniel Romano


"A Viagem" faz juz ao nome. A obra conta seis histórias interligadas, mas em épocas diferentes. O que faz a gente perceber isso é a fisionomia dos atores, já que a maioria vive diversos personagens ao mesmo tempo. Também existe um tal sinal de nascença em forma de cometa, carimbado nos personagens principais, pra mostrar uma possível ligação entre eles. Resumindo: tudo está conectado e só vamos percebendo isso com o desenrolar da trama. A mensagem principal é mostrar que as pessoas se encontram diversas vezes, em diversas vidas, em diferentes idades. Isso explicaria aquela tão chamada "afinidade instantânea" que temos com algumas pessoas. Acredita-se, no filme, que isso vem de outras vidas. O tema teria tudo pra dar certo. Infelizmente, na minha opinião, não deu. O trunfo de tentar interligar tudo acaba não dando certo. O roteiro se perde em cenas fragmentadas, onde não torcemos por personagem nenhum e a única vontade é de que aquilo tudo termine logo. Se isso também acontecer com você, prepare-se: o filme tem quase tres horas de duração.

Tom Hanks e Halle Berry estão excelentes em cena. Isso é indiscutível. Os dois, mesmo com tantos personagens, dão conta do recado e transbordam talento. Já Susan Sarandon, que é uma atriz impecável, ficou com uma participação pequena. O filme mistura passado, presente e futuro de uma forma que podia dar certo, mas o desfecho tão esperado (pelo menos por mim) não aconteceu. Fiquei com a impressão de que o longa, com seis núcleos pra contar, poderia se resumir em um curta de poucos minutos.

Cena um: uma repórter descobre segredos de uma usina nuclear e é perseguida o tempo todo pra gerar cenas de ação em um suspense jornalístico. Porém, sem desfecho. Cena dois: um rapaz conhece a realidade da escravidão e compra a briga de um escravo somente pelo olhar (lembra da afinidade instantânea?). O ruim é que tudo fica óbvio demais e se resume no escravo ajudando o tal mocinho e vice versa. Cena tres: um drama com toques religiosos dão a entender que estamos lidando com personagens pós-apocalípticos (mas só dão a entender, não queira uma explicação). Cena quatro: um jovem músico, que é tão chato e confuso quanto o filme. Acha que acabou? Pasme! Até agora só pincelei quatro histórias. Ainda faltam duas, que ainda vou contar, mas talvez você nem queira mais conhecer. Mas, vamos lá, seja forte. A quinta cena fragmentada fala de uma garçonete que vive sobre comandos robóticos junto com outras idênticas de sua espécie (clones). A moça vira heroína e consegue conquistar um pouco, ainda que nada faça o menor sentido e renda apenas em boas imagens de ficção. A sexta história eu vou deixar pra contar por último. Tenha calma. Estou tentando juntar as peças de forma organizada, só que é difícil. O quebra-cabeça do filme é bem complexo na hora de encaixar as peças.

O gancho principal do filme é trabalhar com essa teoria de que todas as coisas estão interligadas, isso você já sabe. Porém, chega uma hora que não importa mais se é por causa de uma mancha de nascença, por alguma história do passado, do presente, do futuro ou do diabo a quatro. Você já está de saco cheio. O filme fica martelando tanto esta mensagem, e de tantas formas, que logo você está cansado, inteiramente irritado, e aguardando ansiosamente pelo fim.
Talvez por isso eu tenha simpatizado mais com a obra que foi menos retratada: a fuga geriátrica (sexta e última história). Um senhor, que é trancado pelo irmão num asilo, é o cabeça da fuga dos velhinhos. Os fujões dão uma pitada de comédia e eu até torci por eles. Mas a bagunça já era tamanha, que esse toque doce não deu conta de suavizar as toneladas de sal já impostas de forma massacrante. Foram tantas formas de dizer uma mesma coisa, que eu não aguentava mais. Tudo já tinha se transformado em um imenso, cansativo, prolongado, e entediante fracasso.

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