SEU ERNESTO

25 setembro 2009 |


Pessoa de natureza difícil. A teimosia, sua companheira. Prefere a solidão a que estar em coletividade. Assim, vive um senhor de 86 anos lá no ápice da Serra do Sambê, em Rio Bonito (RJ). Teve uma vida dura e difícil, onde residia em um ponto alto da Serra, bem mais longe de onde vive atualmente. Sua primeira esposa morreu muito nova. Seus filhos, cada um seguiu um rumo. Alguns perderam contato, desfizeram os laços parentais. Talvez por desejar se desprender das pregas do passado sofrido, optaram por recomeçar uma nova vida, com outras famílias. Cresceram e desaparecem. Contudo, ele continuou na “mata virgem” e lá encarou, sozinho, desafios para manter sua sobrevivência. Entre os acontecimentos “inusitados” de sua passagem pela terra, está a convocação para ficar em prontidão no quartel em São Gonçalo (RJ) para Segunda Guerra Mundial. Não chegou a tanto.

Anos depois, casou-se novamente. Teve mais alguns filhos. A nova esposa, um tempo depois, foi embora. Ele continuou só. Teme andar de carro, luxo para si não existe, prefere seu “barraquinho” feito de barro e coberto com telha Brasilit.

Preocupado com o avô, um de seus netos, alugou um “quarto” para ele perto de sua casa, próximo ao Centro de Rio Bonito. Ficou apenas onze dias. A insatisfação com o barulho dos carros e a visita rotineira dos netos e bisnetos, o provocou pavor. Implorou ao neto devolvê-lo a seu habitat. Com medo de afetar a saúde do idoso, o rapaz atendeu ao desejo. Agora, o senhor, apesar do cansaço da idade, se sente bem mais à vontade, à sua maneira. E já chegou a afirmar: “Nasci aqui, quero morrer aqui”. É um direito dele.

Só em ler um fragmento dessa história, você já pode imaginar o resto. E esse “velhinho” é meu avô. Salve, salve, o senhor Ernesto! Com ele, todos os dias eu preocupado fico. Ih! Já ia me esquecendo: ele é conhecido como “Dico”.

Foto: Tiago Quintanilha

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